Neste artigo, Arline Davis, Diretora da SBPNL, faz uma leitura pessoal dos quatro pilares de aprendizagem descritos por Jacques Delors.

por Arline Davis

As pessoas buscam workshops, cursos de formação, terapia e coaching. As empresas, por sua vez, procuram treinar seus funcionários para poderem contribuir com seus negócios e assim prosperarem no mercado. Em comum, todas estas ações são, no fundo, processos de aprendizagem.

É muito proveitoso as pessoas, na sua vida pessoal e profissional, aprenderem a aprender, ou ainda se autodesenvolver através da autogestão. Assim, elas podem apreender e se apropriar daquilo que se propuseram a aprender. Este artigo é uma leitura pessoal dos quatro pilares de aprendizagem, como descritos por Jacques Delors, em um relatório para o comitê da UNESCO que responde por estudos sobre a Educação para o Século XXI.

Sua obra está documentada no livro “Educação: Um Tesouro a Descobrir” (1999). Ele dedica um capítulo ao assunto desses quatro pilares: Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer, Aprender a Conviver e Aprender a Ser. Estes caminhos de aprendizagem são complementares entre si e possibilitam um caminho de autodesenvolvimento que é autogerido.

O que é autogestão?

A autogestão é a capacidade que uma pessoa tem para guiar seus próprios caminhos, reconhecendo o que é necessário para chegar aos seus objetivos. Seja no aspecto pessoal ou profissional, é uma habilidade cada vez mais importante na vida das pessoas.

As competências requeridas para a realização e sustentabilidade de projetos são complexas – precisam ser construídas em cima de muitas competências mais básicas. Como Coach e Treinadora eu tenho constatado, muitas vezes, como faz falta uma pessoa ter alicerces sobre os quais a evolução pessoal possa se erguer.

Embora Jacques Delors já tenha feito uma exploração brilhante do tópico, acrescento aqui alguns exemplos de necessidades de desenvolvimento em cada pilar.

Aprender a Conhecer

O mais óbvio para desenvolver no Aprender a Conhecer são os meios de conhecimento e compreensão, como atenção, concentração e memorização. Com treino, todas podem ser melhoradas.

Para apontar uma direção ainda mais evolutiva, é importante ser capaz de pensar sobre o pensamento. Tecnicamente, isto se chama “metacognição”. Mas, sabemos que isto refere-se a uma possibilidade de explorar os bastidores de nosso próprio pensamento. O tempo todo, estamos criando imagens internas, produzindo sensações variadas e tendo diálogos internos que impactam enormemente em nossa habilidade de usar a mente. Se tudo isso ocorrer sem consciência, o drama interior de nosso pensamento pode deitar e rolar, criando estresse, confusão ou simplesmente diminuindo ou atrapalhando as formas da inteligência que temos.

Cada um tem uma preferência para um dos três principais sistemas para comunicar consigo mesmo e o mundo: visual, auditivo e cinestésico. Ao enfatizar um, acaba-se tirando atenção dos outros. Assim, colhemos do mundo informações de uma forma enviesada. Às vezes, não faz mal este viés, mas há outros momentos em que é importante ter todos estes canais como um insumo, por exemplo, no contexto da comunicação.

O mundo que conhecemos é incrivelmente distorcido por regras e suposições que fazem parte de nosso modelo mental. Uma competência de vida é saber suspendê-las por um tempo com o propósito de conhecer o mundo que pode nos chegar quando mexemos com os filtros de percepção que usamos para interagir com o mundo.

Outra faceta de Aprender a Conhecer é a capacidade de imaginar. Nem todos sabem usar suas faculdades criativas para criar cenários e visões do futuro. Tudo é criado uma vez – primeiro na mente e depois no mundo. Se a mente não sabe criar, como é que se pode esperar resultados fortes no mundo?

Para concluir, menciono o quanto é importante cada um desenvolver uma autonomia para verificar os conceitos que lhe são apresentados. A segunda definição do Dicionário Houaiss para a palavra “conceito” é: “Compreensão que ALGUÉM (ênfase da autora) tem de uma palavra, noção, concepção, ideia.” Não se tem que ter um único conceito para os fenômenos da vida, a exploração pessoal enriquece muito!

Aprender a Fazer

Simplesmente fazer algo não é um problema. Estamos fazendo algo o dia todo, mesmo que isso signifique sentar olhando para o espaço. A questão é fazer algo que constrói, que cria alguma coisa no mundo, com iniciativa e “acabativa.”

Mais uma vez, vem à tona a importância da autonomia. Se cada um é capaz de perceber o mundo com os próprios olhos, cada um pode trazer uma contribuição única para solucionar os problemas pessoas e coletivos. Pode-se observar o momento presente e, para concretizar as mais interessantes propostas, se fazer a pergunta: O que eu quero agora? E se o presente apresentar algo não desejado, em vez de focar o problema, se perdendo nas críticas e reclamações, a pergunta é: O que eu quero ao invés disso?

Estas perguntas poderosas levam a uma busca dentro do sistema nervoso maravilhoso de cada um para respostas que solucionam situações indesejadas. A energia – aquilo que se usa para trabalhar – de cada um será focada na solução em vez do problema. Perde-se muito tempo focando o que está errado, pois aquilo que foca aumenta. A grande maioria das pessoas experimenta um estado pouco criativo quando fica batendo na tecla do que está errado. É curioso o quanto este traço de pensamento está presente na vida das pessoas e das organizações.

Aprender a fazer não é sobre o comportamento em si, mas a atitude com a qual se empreende nos projetos da vida. Requer iniciativa, capacidade de superar as frustrações,  não levar os fracassos pessoalmente, entendendo que todo resultado indesejado contém o feedback perfeito para correção de rumos. É criatividade e inovação como presenças constantes no dia-a-dia e determinação para fazer acontecer, lançando mão de flexibilidade para adaptar planos à realidade de implementação. É até o discernimento para saber quando determinação se tornou teimosia, na hora de precisar, sabiamente, desistir de uma determinada estratégia que não está dando certo.

Aprender a Conviver

Quando as pessoas estão presentes no mundo, dotados de meios de perceber e conhecer a realidade, que por sua vez permite que conceba novas possibilidades de empreender para concretizar ideias atraentes, surge naturalmente a necessidade de aprender a conviver com o próximo. Isto porque cada objetivo e o plano de ação para alcançá-lo acabam afetando muitas pessoas além de somente o autor ou autores do projeto. À medida que as pessoas se tornam mais proativas, haverá mais momentos de negociar o uso que cada um vai fazer dos recursos que compartilhamos. Precisaremos experimentar cooperação para encontrar relacionamentos que possam verdadeiramente gerar situações ganha-ganha.

Para conseguirem esta convivência, as pessoas precisam de várias habilidades básicas de relacionamento interpessoal. Podemos dar um grande destaque para a empatia. Há pessoas com quem conseguimos facilmente ter uma empatia. Apreciamos o outro, entendemos seus sentimentos e a resposta que está tendo perante o momento dela. Tem outras pessoas com as quais esta empatia não flui; não dá a mínima vontade ter empatia e até dá um desejo de afastar ou excluir a pessoa de nossa vida ou projeto. Precisamos de discernimento (um elemento de aprender a conhecer) para saber com quem devemos colaborar ou não, mas tomar esta decisão através de uma compreensão de todas as partes é muito diferente do que simplesmente rejeitar o outro.

No mundo de hoje, se veem várias iniciativas para organizar movimentos para responder a algumas das situações mais dolorosas da atualidade, como calamidades (enchentes no Rio de Janeiro, tsunami e ocorrências nucleares no Japão), sustentabilidade e reforma política. Há muita gente com bastante energia e intenção positiva para fazer contribuições e muitas “tribos” que se juntam. Às vezes se torna difícil cooperar com pessoas e grupos que têm a mesma filosofia e intenção; e esta dificuldade impede que haja uma confluência de empenho para solucionar melhor as mazelas que tanto nos impactam. Para andar em direção a uma auto-organização destes movimentos, é imprescindível aprender a dialogar, apreciar a diversidade e perdoar os pequenos deslizes que fazem parte do ser humano, que é naturalmente incoerente em alguns momentos.

Aprender a Ser

Aprender a Ser fica no início ou no final deste desdobrar-se? Segundo Jacques Delors, Aprender a Ser é uma progressão natural dos demais pilares. É claro que não haveria os outros pilares sem o Ser, mas a evolução do Ser depende de um desenvolvimento nos quesitos Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver. Se não for assim, a pessoa se torna nada mais uma peça anônima de uma máquina – uma vida baseada em mecanicidade e colaboração involuntária com resultados que nem deseja. Existe sim, mas existe para fazer parte de metas de outras pessoas. Aprender a Ser significa expressar os dons e talentos, saber quando é para fazer um vôo solo, quando liderar e quando ser liderado.

Aprender a Ser envolve a inteligência intrapessoal para identificar as necessidades e se responsabilizar por elas e também a inteligência transpessoal para compreender que cada um é importante, porém esta importância está totalmente em conexão com algo muito maior do que qualquer um de nós – sistemas mais abrangentes como a humanidade, o planeta, o universo e o Todo.

Uma atitude 

Já escutamos a frase: “a única coisa que não muda é a mudança”, atribuída a Heráclito, um filósofo grego. Então, já que a mudança é inevitável, que tal participar do movimento fazendo uma contribuição daquilo que é único em você? Ao desenvolver uma atitude de aprendiz vitalício, você pode despertar seus sentidos, alinhar seus atos com seu discurso, expressando seus valores e realizando-se como pessoa. Para você fazer este exercício de vida, é importante se instrumentar plenamente, desde seu sistema nervoso, até o modo com que você se conecta com o sistema maior. Desta forma, sua própria mudança pode ser uma evolução. Sua evolução pode ser um exemplo que outros podem seguir. Todos nós dando este exemplo faz o mundo evoluir. É uma excelente maneira de deixar um legado. Mahatma Ghandi nos orientou bem: “Seja a mudança que quer ver no mundo.”

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